O empreendedor e seu potencial de transformação

Por Anna de Souza Aranha

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Todo empreendedor tem um grande sonho.

Seu sonho é o que faz sair da cama todos os dias e superar as diversas barreiras que se apresentam ao longo do caminho.

Todo empreendedor também resolve um problema de alguém. Se há demanda para o seu produto ou serviço, alguma necessidade está sendo suprida.

O empreendedor também gera empregos e paga tributos.

Poderíamos então dizer que todo empreendedor gera impacto positivo para o país ao criar um negócio de sucesso.

Concordo com esse pensamento – mas proponho continuarmos.

Antônio tem uma fábrica de tecidos. Ele gera mais de cem empregos e, com isso, renda para as famílias que vivem no entorno. No entanto, o riacho que passa ao lado da sua fábrica está contaminado pelo despejo indevido que ele faz dos resíduos da produção.

Marina tem uma loja de acessórios. Todo fim de ano, ela faz doação para uma creche que fica perto da sua casa. No entanto, o salário que paga aos seus colaboradores é tão abaixo do mercado, que eles têm passado dificuldade para suprir as necessidades básicas de seus filhos em casa.

Mateus resolveu criar um aplicativo. Tentou criar uma solução que facilitava o aprendizado de matemática para crianças sem acesso a uma boa escola. Acabou mudando de ideia e fez um jogo de luta.

Com esses exemplos, fico a refletir: “todo empreendimento naturalmente gera um impacto positivo, mas será que podemos ir além?”.

Eu acredito que sim.

Analisar “para quê” nosso negócio existe e “como” ele está sendo gerido são bons começos.
Um negócio pode existir para trazer retorno financeiro para seu dono. Mas ele também pode existir para resolver um problema social ou ambiental. Ser lucrativo, ser sustentável, e ainda contribuir para reduzir disparidades sociais – que são tão gigantes na sociedade atual.
Um negócio deve se preocupar com seu cliente. Mas ele pode também ser consciente da forma como trata seus colaboradores. Olhar para o engajamento do time, espaço para autonomia, políticas salariais, tratamento entre gêneros, condições dignas de espaço, respeito a acordos firmados, entre outros.

Um negócio pode olhar para o retorno no curto prazo. Mas ele também pode olhar para o retorno no longo prazo e, por exemplo, perceber que se está deteriorando seu entorno e exaurindo recursos naturais, sua atividade poderá também ser extinta futuramente.

Não é preciso criar um braço de instituto para a empresa. Não é preciso criar uma área de responsabilidade social corporativa. Ao mesmo tempo, requer uma clareza por parte da sua liderança. Clareza sobre o propósito da organização e seus valores, além de pensamento de longo prazo, compromisso para colocar os valores em prática no dia a dia e humildade para reconhecer as ações que, mesmo sem intenção, acabam saindo fora do eixo.

“Legal que isso exista, mas, por que eu deveria fazer parte isso?”. As razões são diversas.
Uma empresa que tem a intenção de promover uma transformação positiva para o mundo e que é consciente de suas ações perante seus stakeholders  tende a ter um retorno maior no longo prazo. Além disso, traz um senso de legado e realização para seus colaboradores que, motivados, poderão engajar mais clientes em torno de crenças em comum e fidelizá-los. Ainda, uma empresa que permite que seus colaboradores explorem seus talentos e ajam de forma genuína, tende a ser mais inovadora e a criar diferenciais claros perante seus concorrentes.

Por fim, basta assistirmos aos noticiários para entender que nossa realidade está repleta de desafios sociais e ambientais para serem superados, e que eles afetam a todos. Se cada um pensar “o outro que resolva isso”, tudo continuará como está – e com certeza não é esse o futuro que sonhamos para nós. Mas, pensando como empreendedores, essas disparidades sociais são também verdadeiras oportunidades de negócio e revelam demandas a serem supridas. Áreas como educação, saúde, empregabilidade, gestão de resíduos, mobilidade oferecem diversas oportunidades para gerar resultado financeiro – e ainda contribuir para a transformação positiva da sociedade.

Vale destacar a importância de que essa abordagem seja genuína do empreendedor, da liderança da organização. Os clientes percebem as inconsistências das organizações quando o discurso e a ação não estão alinhados – o que, no mundo da sustentabilidade, pode ser identificado como greenwashing. Os colaboradores também percebem isso com facilidade.

Como em outras relações, tendem a ser recíprocos com a empresa – quando se sentem menosprezados, tendem a não se importar com ela. Da mesma forma, quando se sentem cuidados, cuidam dela de volta de forma genuína.

Assim, empreendedor, parabéns por já estar contribuindo para o mundo – e lembre-se que está nas suas mãos a oportunidade de enxergar seu negócio com outros olhos e o gerir de forma a ampliar o impacto positivo entre seus stakeholders. Você influenciará não apenas seu negócio, como poderá inspirar todo o seu time pelo exemplo. Além disso, o Brasil está cheio de desafios esperando por você que, além de serem oportunidades rentáveis de negócio, são também grandes oportunidades para transformar o nosso país.

Anna de Souza Aranha é formada como administradora pela FGV, se dedica à consolidação e expansão de negócios de impacto como gestora da aceleradora Instituto Quintessa. É também cofundadora do Intento DFW, plataforma focada em liderança com integridade.

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