Um ano após ser decretada a redução de velocidade em São Paulo, entenda o que mudou

Mudança nos limites traz resultados positivos; as multas para automóveis caíram, mas motos continuam sendo preocupação

Desde julho de 2015, os motoristas que trafegam pela cidade de São Paulo tiveram de se acostumar a tirar o pé do acelerador quando a velocidade máxima permitida em diversas vias, como a Marginal Tietê, foi reduzida em cerca de 25%. Polêmicas à parte, o que será que, em um ano, mudou no trânsito, no carro e na sua vida?

Em reportagem publicada em novembro de 2015, especialistas consultados foram unânimes em afirmar que as vantagens para o veículo eram várias, como redução no consumo de combustível, aumento na durabilidade da suspensão e maior segurança nas frenagens. Ainda assim, havia queixas, como a de que a redução do limite foi de um dia para o outro. Para Luiz Célio Bottura, Consultor de Engenharia Urbana, a quantidade de alertas nas ruas e na imprensa avisando sobre a redução foi suficiente, mas ela poderia ter começado por outras vias. “Defendo essa medida para as Marginais, porém, acredito que seria válida a implementação primeiramente nas avenidas 23 de Maio e dos Bandeirantes”.

Acidentes e multas

A Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo divulgou recentemente balanço que compara a ocorrência de acidentes de trânsito com mortes em 2015 em relação a 2014. Não há estatísticas exclusivas para o período entre julho de 2015 e julho de 2016, embora os resultados obtidos no ano passado estejam diretamente relacionados, segundo a CET, à redução dos limites de velocidades. Houve queda de 20,6% nas mortes no trânsito na cidade. O levantamento mostra ainda que 257 vidas foram poupadas na comparação entre janeiro e dezembro de 2014 com o mesmo período do ano passado. Enquanto nos 12 meses de 2014, foram registrados 1.249 óbitos, no mesmo período de 2015 ocorreram 992 casos.

“Essa readequação do ambiente viário resultou na melhora das condições de segurança. O objetivo inicial era realmente reduzir o número de acidentes, em especial com vítimas, e pudemos verificar que isso foi alcançado”, comenta o diretor de Planejamento da CET, Tadeu Leite Duarte.

Quanto ao total de multas, o dado mais recente da CET é de março de 2016; comparando com o mesmo mês de 2015, houve aumento de 33,6%(1.025.229 multas no ano passado ante 1.370.663 neste). O órgão também não informa quais dessas multas ocorreram exclusivamente em vias onde houve a redução de velocidade.

Das infrações em março de 2015, 70,74% foram cometidas por carros e 4,51% por motos. No mesmo mês deste ano, foram, respectivamente, 68,88% e 5,36%. Apesar de a frota de carros ser de aproximadamente 5,6 milhões de unidades a mais, é o comportamento do motociclista que preocupa as autoridades de trânsito, considerando que sua segurança foi um dos motivos para a redução da velocidade.

“As ocorrências envolvendo motociclistas já são mais frequentes que as envolvendo pedestres. Estamos estudando algumas medidas junto ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para serem implementadas em breve”, adianta Duarte.

 

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Iniciativa internacional

Em maio de 2011, a Organização das Nações Unidas lançou a Década de Ação pela Segurança no Trânsito, que vai até 2020. A iniciativa, coordenada pela Organização Mundial da Saúde, propõe a governos de todo o mundo que se comprometam a adotar medidas para prevenir acidentes de trânsito, como a redução do consumo de bebidas alcoólicas por motoristas, aumento do uso de capacetes e do cinto de segurança, além da melhoria dos atendimentos de emergência. O projeto conta com a adesão do Brasil desde o início e foi uma das bandeiras do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para justificar os novos limites de velocidade.

A meta estipulada pela OMS é de 6 mortes no trânsito a cada 100 mil habitantes até 2020. Duarte afirma que, em 2014, o índice na capital paulista foi de 10,47 para 100 mil. No ano seguinte, caiu para 8,26 para 100 mil. “É uma queda notável se comparada com os dados de Brasil (23,40), Estado de São Paulo (17,40) e Região Metropolitana de São Paulo (19,40)”. Na visão do consultor da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) para Segurança no Trânsito, Victor Pavarino, a redução de velocidade é apenas um fator de diversos necessários para um trânsito mais seguro. A produção de espaço viário adequado inclui principalmente a reeducação dos motoristas e a aplicação de sanções.

“São importantes a maior visibilidade da fiscalização, a sensação de maior probabilidade de sanção no caso de cometimento de infração e a aplicação oportuna da legislação, como notificação e penalização rápida das infrações logo após cometidas”, diz.

Assaltos

Uma das principais queixas, há um ano, foi a de que trafegar em velocidade mais baixa poderia facilitar a ação de criminosos. Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que não faz levantamentos específicos sobre ocorrências em vias. A exceção, de forma geral, são homicídios (doloso e culposo) e lesão corporal culposa, ambos por acidente de trânsito. Entre janeiro e abril, os totais foram de, respectivamente, 5, 107 e 5.583, ante 1, 136 e 7.014 no mesmo período do ano passado. A SSP também não informa se a redução em dois desses índices se deve exclusivamente à velocidade menor.

Fonte: Auto Esporte

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