Carro: melhor amigo ou grande inimigo da mobilidade urbana?

Por Roberto Cerdeira

Foto via Kaique Rocha/Pexels

A mobilidade urbana é, definitivamente, o grande desafio das metrópoles contemporâneas em todas as partes do mundo.

Durante o século passado vimos o automóvel se consolidar como uma solução ideal para a necessidade de transporte da época, chegando a se tornar o verdadeiro sonho de consumo popular. Hoje, porém, com o aumento desenfreado da frota de carros e o surgimento de problemas como excesso de trânsito e poluição, o cenário parece ser um pouco diferente. O automóvel já não é mais o mocinho da história.

As cidades estão se adaptando com base no que chamamos de integração modal – conceito que traduz a oferta de uma solução eficiente de circulação urbana, desenvolvida com base em diferentes modalidades de transporte (modais) interconectadas entre si.

A partir desse conceito, não apenas algumas soluções coletivas tradicionais como ônibus e metrô ganharam ainda mais força, como também entraram em cena a facilitação e o incentivo a meios alternativos.

Mas e os automóveis, como se encaixam nesse contexto?

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O fato é que o mercado automobilístico encontra-se hoje em meio a uma verdadeira revolução. Se por um lado tecnologias como os carros elétricos e autônomos prometem proporcionar soluções infinitamente mais sustentáveis e confortáveis, por outro, sistemas de carona e carros compartilhados também modificam a forma como as novas gerações utilizam este meio de transporte. Apesar de todas essas influencias e incertezas, uma coisa é certa sobre o futuro dos carros: eles não vão desaparecer.

Carros elétricos, sua ascensão mundial e seus maiores inimigos

Os carros serão sempre uma parte importante do sistema de mobilidade urbana, e na mesma velocidade com que novas tecnologias de transporte são desenvolvidas, as cidades precisam se preparar para recebê-las. No caso do automóvel, isso significa investir em uma infraestrutura que não apenas comporte a quantidade de carros atual, como também seja segura e pouco invasiva para os pedestres. Na prática, isso significa enxergar os automóveis como mais um modal de transporte, e integrá-los efetivamente à malha de transporte urbano.

Solução para a mobilidade urbana brasileira

É fato que no Brasil ainda há muito trabalho a ser feito para conquistarmos uma mobilidade urbana realmente eficiente, de baixo custo e confortável. Os investimentos para isso são altos, e devem vir não apenas no poder público, mas também da iniciativa privada.

Um olhar atento para tendências e oportunidades de integração modal e automação pode, certamente, garantir a viabilidade de investimentos desse tipo. Na Europa, por exemplo, muitos estacionamentos automatizados já operam sem a presença física de funcionários, que atendem demandas de clientes através de centrais de controle remotas.

Além de solucionar questões de trânsito, a tecnologia também garante maior conforto e comodidade aos usuários de carros. Podemos citar desde a compra online de vagas de estacionamento, que permite que o usuário se programe com antecedência, como o uso de aplicativos, que garante maior agilidade para localizar as garagens; ou mesmo a viabilização de tarifas dinâmicas e programas de fidelidade, que beneficiam clientes frequentes ou aqueles fora do horário de pico.

Se quisermos mesmo melhorar a nossa mobilidade urbana, precisamos olhar não apenas para a requalificação do transporte público, como também a ressignificação dos modelos privado e individual. Reduzir ruídos, poluição e custo, elevando conforto e agilidade de fluxo, é uma meta válida para todos os modais, sejam eles ônibus, metros, vans, carros, motos, etc. E para que essa meta seja cumprida, não podemos simplesmente ignorar a relevância dos automóveis dentro do nosso sistema. Precisamos, na verdade, incluí-los de forma estratégica.

Roberto Cerdeira é CEO do Grupo Pare Bem Estacionamentos, detentor de uma das maiores plataformas de estacionamentos do Brasil.

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