CES 2017 e o impacto da feira nos negócios brasileiros

Por Marcia Ogawa

Acabo de retornar de Las Vegas (EUA), onde participei de diversas atividades relacionadas à maior feira de tecnologia do mundo, a CES – Consumer Electronics Show, que reuniu mais de 170 mil participantes.

O que mais me fascina nas edições mais recentes da feira é que o evento não é mais exclusivamente dirigido ao “consumidor”, e muito menos restrito ao mundo da “eletrônica”, tal como diz seu nome.

As soluções de transformação digital aplicáveis ao público corporativo – como o automotivo, da saúde, comércio, segurança, educação, agricultura, manufatura, turismo e outros – se misturam aos lançamentos de novas TVs, consoles de vídeo game e eletrodomésticos.

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Tudo começa no consumidor, que hoje é digital, e exige interações digitais, inteligentes e personalizadas, o que abre um mundo de oportunidades e, ao mesmo tempo, desafios para as corporações.

As fronteiras entre o mundo da manufatura, da tecnologia e das telecomunicações são fluidas. Hoje, fica difícil distinguir os limites de uma companhia automotiva, ou de uma empresa de artigos esportivos, pois ambas, além de vender seus produtos originais do mundo físico, ofertam soluções de conectividade e produtos digitais. Já participam das iniciativas da 5G (quinta geração de conexão de telecomunicações, em telefonia e dados, em desenvolvimento e, em alguns casos, em implantação internacionalmente), que foi amplamente explorada no CES deste ano.

As aplicações de realidade aumentada, drones e assistentes virtuais traçam um paralelo, tanto no mundo do consumo, quanto no corporativo. O “De → Para”, que liga um mundo (e suas realidades, praticidades e usabilidades específicas) ao outro fica fácil de ser estabelecido.

O que é importante é que a tecnologia está em nossas mãos, acessível, democrática, pronta para ser consumida. Os softwares de inteligência artificial estão disponíveis para serem consumidos, tanto por nossas crianças no auxílio a suas tarefas escolares, quanto por enfermeiros e médicos de um centro de saúde.

Os keynote speakers do CES, grandes especialistas deste mundo que está em constante mudança e evolução, derrubaram os muros que separavam indústrias tradicionais das de tecnologia, mídia e telecomunicações. Empresas inusitadas – como a Carnival, de cruzeiros marítimos, e a Under Armour, de artigos esportivos – apresentaram propostas de experiências inéditas aos usuários, oferecendo conectividade digital e personalizada. Este é o lado fascinante do CES, mostrando o poder pervasivo e ubíquo das novas tecnologias.

O que me entristece é a completa ausência do Brasil neste evento, seja na exibição de casos de uso, como de participantes ativos, liderando determinadas temáticas.

Faço uma reflexão e vejo que a nossa baixíssima representatividade no mundo da tecnologia advém de três fatores principais:

Mercado excessivamente protecionista, o que deixa todos nós míopes, achando que “já estamos no estado da arte”, ou céticos, ignorando as novas tecnologias ou achando que “ainda vão demorar para chegar no Brasil”; o segundo fator é a falta de valorização do profissional “maker” (aquele que faz os sonhos tornarem-se realidade, ligado às ciências exatas), o que faz com que as nossas crianças não sejam atraídas para as profissões desse segmento do conhecimento e com que os nossos melhores talentos já formados sigam outras carreiras, ou saiam do país; e o terceiro é a falta de diversidade de parcerias e acordos bilaterais com outros países na área de tecnologia, para que o Brasil possa participar das cadeias de valor do mundo desenvolvido.

O dinamismo do setor não nos permite querer dominar todos os elos da cadeia. É indispensável, muitas vezes, que se deixe de lado o “ufanismo” e a “xenofobia”, sendo pragmáticos, e investindo onde realmente temos competência e vocação.

As empresas que hoje estão dando show no CES são de países que conseguiram endereçar estas questões no âmbito de políticas de Estado, de modo pragmático, sem ideologias. É o que está faltando em nosso país para que floresça a nossa indústria de tecnologia, pois temos a matéria-prima essencial: uma população vasta, criativa e que absorve a tecnologia com facilidade.

Marcia Ogawa é sócia-líder para as indústrias de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da Deloitte Brasil.

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