Economia Criativa e a matéria prima que não se esgota
Nos países desenvolvidos a criatividade é matéria de escola, muitas empresas têm departamento que consome boa parte do orçamento chamado de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
No primeiro mundo, muito diferente daqui a criatividade é incentivada em forma de disciplina estratégica como uma alternativa para o modelo econômico e industrial que está perto do esgotamento.
O especialista em Economia Criativa, Bento Andreato, pesquisou e teve a oportunidade de conhecer de perto inúmeras iniciativas ligadas à criatividade brasileira durante a sua trajetória de 15 anos de publicação do Almanaque Brasil de Cultura Popular e um ano de colunas semanais com o programa Brasil Criativo, na BandNews.
“O que pude perceber é que enquanto lá fora a Economia Criativa anda a passos largos, aqui ainda está no início, poucas pessoas trabalham com o assunto e a maioria das pessoas ainda não enxergam como uma solução para esse modelo escasso de mundo em que vivemos. Mas a criatividade é um valor intrínseco do brasileiro. Nós nascemos criativos”, esclarece o especialista.
Segundo Bento, ao contrário do primeiro mundo o brasileiro utiliza a criatividade para solucionar os problemas que encontra no seu dia a dia. Quanto mais precário o lugar em que vive, quanto menos recursos tem à disposição, quanto menos apoio encontra das instituições legais, mais aparece a criatividade do brasileiro.
A criatividade surge nesse sentido como ferramenta de transformação social e principalmente como antídoto para as muitas barreiras que estão diante do empreendedor social, cultural e dos pequenos empresários e artistas. Muito além da criatividade voltada para as disciplinas artísticas como música, design, audiovisual etc. A criatividade surge como modelo de gestão e ferramenta transformadora da realidade a sua volta.
Quanto mais pobre a comunidade mais a economia criativa floresce a e soluções compartilhadas aparecem, sempre com a inclusão e transformação local como premissas básicas. “Assim funciona a criatividade social, você se conecta com causas e pessoas. Tudo de maneira orgânica e espontânea. Nas periferias do Brasil não tem outro jeito, se não se ajudar, ninguém vai fazer por eles.
Em São Paulo, por exemplo, existem inúmeras iniciativas transformadoras pelas periferias, de projeto de capacitação de jovens para o mercado de gastronomia, passando por turismo solidário, mapeamento de obras de arte presentes no espaço público, saraus, encontros multiculturais, a produção de festivais de música até coletivos organizados que lutam para pautar o poder público para dar mais benefícios para as comunidades. Para Bento Andreato, vale destacar o movimento SOMOS1SÓ, que tem como objetivo mapear, fortalecer e incentivar o que já acontece nas periferias da cidade.
“Olhar para essas iniciativas, apoiar esses fazedores, investir na criatividade como matéria prima inesgotável é um caminho sem volta nos tempos atuais, afinal uma país mais criativo, com mais inclusão, com menos violência e mais arte não faz mal a ninguém, ou faz?”, pondera Bento Andreato.