Bicicleta: “Sem os veículos motorizados o Brasil está parando, mas não precisa ser assim”
Talvez seja a hora de buscar novos meios. Como a bicicleta.
Com a greve dos caminhoneiros, os postos não conseguem abastecimento, diversos segmentos já sentem o severo impacto desta paralisação e as perspectivas não são nada promissoras.
Quando a situação chega a um ponto extremo como esse, a reflexão que se faz é sobre como existe uma dependência desnecessária do combustível por uma parte expressiva da população, e é neste ponto que se conclui que é preciso uma reavaliação urgente nas questões de mobilidade urbana e esta discussão precisa ser protagonista em todas as esferas sociais e governamentais.
A bicicleta pode não ser a resposta para todas as perguntas existenciais que são feitas neste momento de caos, mas a bicicleta pode abrir caminhos que já existem e outros que podem ser criados com o objetivo de amenizar o impacto negativo que a dependência de veículos motorizados tem gerado, é o que aponta o estudo “A economia da bicicleta no Brasil”, uma iniciativa do LABMOB (UFRJ) e da Aliança Bike.
Investir em malhas cicloviárias significa diminuir a dependência da população de veículos motorizados, o que vai impactar de maneira efetiva na: diminuição do trafego, melhoria da qualidade de vida, redução de emissão de gases extremamente poluentes, redução de impactos negativos no clima, estimulo ao crescimento de pequenos grupos econômicos como produtores agrícolas, fomento na cadeia produtiva dos segmentos que tem a bike como centro econômico, sem contar que usar a bicicleta ao invés de carros e ônibus representa uma economia anual realmente significativa.
De acordo com os dados mapeados pelo estudo “A economia da bicicleta no Brasil”, São Paulo é a capital nacional que possui maior infraestrutura para o trafego de bicicletas, com cerca de 498,4 km de ciclovias, o reflexo desse investimento em meios alternativos de mobilidade urbana tem sido realmente positivo.
Em alguns bairros da capital paulista, como o Bom Retiro na região central, uma parte considerável da logística realizada entre os comerciantes é feita por meio da bicicleta, por ser uma forma de transporte mais econômica, eficiente e rápida.
Mas o destaque também é válido para outros Estados, analisando o cenário do Rio de janeiro, por exemplo, o Estudo mapeou que famílias que optam pelo uso da bicicleta ao invés de carros podem economizar até R$ 15 mil por ano, as que optam pela bike ao invés dos transportes públicos, chegam a poupar até R$ 13 mil.
O impacto dessa redução do uso de veículo motorizado por algumas famílias no meio ambiente é ainda mais interessante, já que por ano a estimativa é que economia na emissão de gases poluentes por meio do uso da bicicleta chega a 385.216 toneladas por ano, o que é extremamente significativo, isso considerando apenas a emissão de Monóxido de Carbono, fora os outros tipos de gases que são extremamente poluentes e tóxicos.
É claro que a necessidade por carros, caminhões e ônibus sempre vai existir e a dependência de alguns setores da economia por esses meios de transporte sempre vai ser relevante, mas o estudo sugere alguns pontos interessantes que estimulam uma reorganização tática da malha viária nos grandes centros urbanos, trazendo à luz temáticas relevantes e que merecem a atenção da sociedade e governantes.
A estrutura do estudo está dividida em cinco dimensões: Cadeia Produtiva, Políticas Públicas, Transportes, Atividades Afins e Benefícios. Conta com 22 temáticas distribuídas nesses grupos, que mostram números inéditos sobre geração de empregos, exportações, ciclologística, cicloturismo, investimentos em produção científica, cicloativismo, entre outros.
Sobre o estudo “A economia da bicicleta no Brasil”
O levantamento, que levou pouco mais de um ano para ser concluído, mostra qual a participação da bicicleta na economia nacional e responde a perguntas como: quantos empregos o setor gera, quantas bicicletas, partes e peças são produzidas e importadas? Quantas lojas de bicicletas existem no Brasil e qual o impacto do uso desse meio de transporte ativo no orçamento familiar? Quanto é investido em estrutura cicloviária, no país, ao longo de um ano?
“Nossa ideia com o estudo é, além de trazer um retrato preciso do setor, ajudar gestores públicos na tomada de decisões relacionadas ao uso da bicicleta, oferecer informações mais precisas à imprensa para divulgar e incentivar o uso desse meio de transporte, assim como pesquisadores da academia ganham suporte extra para estudar e aprofundar a interdisciplinaridade da bicicleta”, explica Daniel Guth, coordenador de projetos da Aliança Bike e organizador deste estudo.
O estudo se baseia em dados primários e secundários, estes produzidos por órgãos do governo federal e institutos como o IBGE, MDIC, além de apresentar vários estudos de casos. Os dados principais do estudo, assim como o relatório completo estão aqui.