Inteligência Artificial: educação impactará mais que a tecnologia
Recentemente um artigo publicado pela Element AI, empresa canadense focada em pesquisa para desenvolvimento da inteligência artificial, assustou aqueles que pretendiam contratar mão de obra para projetos relacionados à área em suas companhias.
Segundo o estudo apresentado, existem atualmente cerca de 20.000 pesquisadores capazes de liderar projetos complexos de IA, dos quais apenas 3.000 estariam disponíveis à contratação.
Isso também pode explicar alguns dados sobre emprego no Vale do Silício, onde a média de retenção em empresas como Google e Amazon, que é em torno de 1 ano e meio, e fica mais complicada quando se fala em inteligência artificial.
Com isso você já deve estar se perguntando: Se em um país rico como os Estados Unidos está assim, o que acontecerá no cenário brasileiro?
Para responder esta pergunta antes de tudo precisamos entender melhor o quão complexo é o aprendizado de inteligência artificial.
Primeiro mito que precisamos derrubar é o de que inteligência artificial é uma ciência ligada ao mundo dos softwares e computadores, e portanto as pessoas mais indicadas para tal seriam desenvolvedores e cientistas da computação. Não é. Softwares e computadores são apenas o meio para realizar tais coisas. É aí que o cenário complica.
O motor da inteligência artificial é a matemática e não a computação. Por isso não é raro vermos cientistas renomados em AI oriundos de áreas como engenharia elétrica, mecânica ou estatística.
O segundo mito que é preciso derrubar é o da capacidade tecnológica. Na década de 80 enquanto o mundo ficava fascinado com a evolução do computador pessoal, o Brasil se fechava na reserva de mercado. Mas não foi a primeira vez isso ocorreria, o Brasil não havia conseguido acompanhar a revolução das ferrovias, da industrialização, do refino de petróleo, ficando sempre décadas atrás de cada onda global.
Graças a globalização, ao processamento em nuvem e com certeza a internet, sem medo de errar, talvez seja a primeira vez na história em que temos acesso as mesmas tecnologias de países ricos que são necessárias para uma revolução econômica. Pela primeira vez estamos na faixa de largada calçando os mesmos sapatos de nossos adversários competidores. Estariam nossos atletas preparados?
Quando falamos em preparo, chegamos ao nosso ponto mais critico: Educação.
Não é novidade para ninguém que o Brasil nunca configurou na lista dos melhores países do mundo nesse quesito, mas há um outro detalhe, nosso modelo ensino é lento demais para uma era de mudanças exponenciais. Para ajudar nossos estudantes nesta corrida teríamos que criar novos modelos capazes de desenvolver habilidades fundamentais ao mundo atual e consequentemente ao mercado de inteligência artificial.
Este foi um dos motivos que criamos o Instituto de Inteligência Artificial Aplicada, apoiado por pesquisadores de diversas universidades e pela Nvidia, maior fabricante mundial de hardware para IA, com o intuito de prover educação de alta qualidade, gratuita e condizente com as habilidades necessárias ao mercado atual.
Mais do que aprender novas técnicas, o aluno passa por uma reformulação de conceitos que vai desde a filosofia até a aplicação prática da matemática. O Método PBL (Problem Based Learning) ajuda a acelerar o processo de aprendizagem e a dar sentido a todo o conhecimento adquirido, e desde o primeiro dia de aula o aluno é envolvido em algum projeto.
O I2A2 – Instituto de Inteligência Artificial Aplicada é apenas uma pequena iniciativa, uma forma de amenizar o trágico cenário nacional. Mas, se o Brasil se quiser ser competitivo vai precisar de muito mais do que isso.
Atualmente o Canadá é referência em Inteligência Artificial. Isso só ocorre por uma somatória onde as variáveis são: investimento do governo, iniciativa privada, instituições de ensino e base educacional. Neste ultimo item o Canadá é referência mundial com quase 100% da população alfabetizada e 95% dos alunos em escola publica.
Além disso, o governo canadense tem investido bilhões de dólares em iniciativas para formação de mão de obra para o mercado de IA, um exemplo foi o aporte de U$100 milhões no Vector Institute, o que atraiu mais U$80 milhões de fundos de investimentos.
O governo chinês apresentou, em 2017, o Plano Nacional de Desenvolvimento de Inteligência Artificial voltado principalmente para os setores militares do país. No inicio deste ano também anunciou outro investimento de quase US$ 2 bi em um parque tecnológico para 400 empresas voltadas ao mercado de IA.
No Brasil o cenário e nem mesmo a percepção de órgãos governamentais parece ser tão otimista ou promissor. Aqui pouco se fala da importância da IA na estratégia nacional, talvez porque nossa maior preocupação no momento é sobreviver ao terrível cenário político.
Porém, com a atual abertura que vem ocorrendo nas universidades públicas brasileiras ao capital privado, o aumento do número de parcerias e a aproximação com a indústria podem ser um sinal de que algo pode ser feito e de que temos condições de aproveitar este momento.
Será que teremos tempo pra isso?
Resposta difícil, mas precisamos tentar.
Texto por Evandro Barros, CEO da DATA H – Artificial Intelligence e fundador do I2A2 – Instituto de Inteligência Artificial Aplicada.