Porque Trump é tão popular e o que as marcas podem aprender com ele?
Por Abel Reis
Trump e Tiririca seriam aplaudidos de pé por Maquiavel. O que os dois têm em comum? Uma espontaneidade desconcertante que nos faz crer que são gente como a gente, com falhas assumidas, exageros divertidos e certezas simplórias.
Eles falam o que pensam, não pensam no que falam e prometem soluções on-demand. Teatrais, verborrágicos e dramáticos, parecem naturais – e demasiadamente humanos. Mesmo que tudo seja milimetricamente calculado e ensaiado, o resultado é verossímil, impactante e sem filtro – para usar a expressão que representa o “selo de verdade” nas mídias sociais.
Por que Maquiavel os ovacionaria? Porque, pela lógica maquiavélica, política é a arte da adaptação às circunstâncias. Sábio é o governante, nos conta o pensador italiano, que identifica o Zeitgeist (o espírito da época) e age conforme o contexto exige. Quanto desemprego e quantas vítimas do terrorismo são necessários para converter a contenção de imigrantes em panaceia? A vitória do candidato com plano de erguer um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México nos dá uma pista.
Julgamento moral à parte, Trump, Tiririca e similares são mestres na compreensão do momento em que vivem. Sabem que estamos um tanto engessados – senão saturados – pelo politicamente correto e pela estética Photoshop.
Está aí o Snapchat, preferido especialmente pelas novas gerações, para nos lembrar do poder da verdade sem censura e sem retoques. Mais interessam fugazes segundos da vida como ela é do que um conteúdo protocolar e frio.
Em sociedades democráticas idealizadas, a escolha de representantes do povo teria a ver com programa de governo, plataforma, ideologia, competência administrativa, conquistas sociais e econômicas obtidas. Na prática, a teoria é outra. A existência em rede acrescentou um trend topic à agenda política: a autenticidade.
Ela é o Santo Graal de quem quer capturar e cativar audiência. Em sociedades midiatizadas, ajustar o discurso a anseios sociais diferencia os que soam reais dos fake. Entenda-se real na acepção de “pós-verdade”, não por acaso escolhida como palavra do ano pelo Oxford Dictionary. De acordo com o dicionário britânico, o verbete significa “relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influenciadores na formação da opinião pública do que apelos à emoção ou à crença pessoal”. Adeus à neutralidade e ao mundo em tons pasteis, com tudo o que isso pode ter de bom ou de ruim.
Não vale mais ficar em cima do muro – ou parecer estar em cima do muro, como Hillary pareceu. Mas também não se pode ignorar as nuances da audiência e suas possíveis evoluções.
Trump venceu, mas o candidato democrata a vice, Bernie Sanders, apareceu como o político mais respeitado e admirado entre americanos de 18 a 26 anos (a chamada “Geração Snapchat”), em pesquisa realizada pela Luntz Global, em fevereiro de 2016. Jovens os colocaram entre as três pessoas que mais gostariam de encontrar, em uma lista que trazia diversos astros pops consagrados mundialmente. Um resultado que inspira reflexões para o futuro.
O desejo por autenticidade alterou a relação de eleitores com políticos – e mudou também o jeito de as marcas se relacionarem com os consumidores. Somos cínicos, céticos e voláteis. Temos voz ativa, pesquisamos e mudamos de opinião. No tempo em que trinta segundos no horário nobre eram garantia de sucesso de um produto, nossos pais e avós eram expectadores isolados em suas casas e, desse ponto de vista, faziam escolhas. Agora, nosso cardápio é tão extenso e complexo quanto nossas possibilidades de interagir, questionar e influenciar os rumos de uma marca e até de uma indústria. Protagonistas e empoderados, prezamos atitude, propósito e verdade. E esperamos o mesmo das marcas. Nada mais, nada menos.
Artigo escrito por Abel Reis, CEO do grupo Dentsu Aegis Network Brasil. Loocalizei este conteúdo no Época Negócios