Após veto, moradores de periferia de SP criam seu próprio Uber
Enquanto os serviços prestados pelo Uber têm deixado usuários insatisfeitos por uma série de motivações (precarização dos carros e a variação às vezes exorbitante de preço, por exemplo), outra parcela da população, moradora de favelas e comunidades, sofre com um problema ainda maior: inexistência do serviço em seus bairros.
Pensando em oferecer uma alternativa para este público que dois moradores da Brasilândia, bairro periférico de São Paulo, decidiram criar a Ubra, que atua na comunidade onde a gigante norte-americana não chega.
De acordo com reportagem da BBC, “quem tenta pedir um carro num desses bairros vê o recado saltar na tela: “Infelizmente, a Uber não está disponível na sua área no momento”. A empresa informou que isso ocorre nas regiões “com desafios de segurança pública”. Independente disso, a grande demanda de passageiros no extremo norte da capital inspirou o tatuador Emerson Lima, de 40 anos, e o motorista Alvimar da Silva, de 48, a criarem a Ubra: União da Brasilândia.
What is Ubra?
A Ubra foi criada há aproximadamente 20 dias e conta atualmente com seis motoristas, mas já tem planos de ampliar sua frota (não a área de cobertura) nas próximas semanas. O sistema é simples: por meio de um telefone fixo e um celular com WhatsApp, os pedidos de corridas são recebidos, enquanto os motoristas aguardam o chamado em uma sala de espera.
O serviço aceita cartões de crédito e débito e dinheiro como forma de pagamento. O sistema de cálculo é bem mais rudimentar que o do Uber. O preço da corrida é determinado apenas pela distância medida entre os pontos de partida e chegada no Google Maps.
Os preços praticados pela Ubra, segundo o que contam os criadores à BBC, são semelhantes aos do Uber. O quilômetro rodado sai por R$ 2,00, contra R$ 1,80 do Uber, que cobra ainda uma taxa municipal.
Serviço tem demandas específicas
De acordo com Alvimar, o serviço de qualidade é ferramenta para conquistar uma clientela fiel: “Oferecemos um serviço de qualidade para fidelizar os passageiros. Só permitimos carros em ótimas condições e com ar condicionado. Além disso, os motoristas são todos de confiança. Só nossos amigos do bairro”, conta Alvimar à reportagem da BBC.
“Nós temos um papel a cumprir na quebrada. É um trabalho social, não é só cobrar o (preço) que deu. Eu levo mulher em presídio, transporto deficiente físico e idoso para fazer consulta. Muitas vezes, cobro menos”, relata o motorista.
Por enquanto, serviço circula ilegalmente
Apesar de a Secretaria Municipal de Transportes declarar o “interesse em aumentar o número de empresas que operam na cidade, sobretudo em locais onde o sistema viário ainda é pouco aproveitado pelo transporte individual de passageiros”, a administração ressaltou que a empresa ainda não foi credenciada no Conselho Municipal de Uso do Viário (CMUV) e não pode transportar passageiros, estando sujeita à fiscalização, assim como seus motoristas, que podem receber multas e ter seus veículos apreendidos.