Tendência Starbucks: cafeterias brasileiras alugam espaço de trabalho
Imagine um lugar com pães, bolos, chás e café gourmet à vontade, como num bufê, onde você não paga pelo o que consome, mas pelo tempo que passa no local. Com foco em pessoas que buscam um lugar com wi-fi para trabalhar, essa é a proposta do Lemni, em São Paulo, e do Guaja, em Belo Horizonte (MG).
A forma de cobrança é parecida com a de estacionamentos. Os preços começam em R$ 12. No Lemni, o valor dá meia hora de uso do espaço, mais R$ 3 a cada 15 minutos. Uma hora completa custa R$ 18. No Guaja, os mesmos R$ 12 valem por uma hora. Ambos têm um teto de preço, que é de R$ 66 no Lemni e de R$ 48 no Guaja por dia.
“Queremos propor uma nova forma de consumo”, diz a zootecnista Giuliana Nogueira, 32, sócia do Lemni, ao lado da irmã, a atuária Rebecca, 29. Ela diz terem se inspirado em cafés da Europa e da Rússia. Foi lá que nasceu o conceito, batizado de anticafé.
Negócios têm menos de um ano
O Lemni, que fica no bairro de Pinheiros, foi inaugurado em junho deste ano. No local, há um micro-ondas à disposição e é possível levar e esquentar a própria comida. “Queremos proporcionar autonomia às pessoas e fazer com que elas se sintam em casa”, diz Nogueira.
O mineiro Guaja começou primeiro como coworking (escritório compartilhado) há três anos. O café surgiu em fevereiro deste ano, quando se mudaram para um local maior, no bairro Funcionários.
“Não queríamos crescer apenas em espaço, mas em formas de atuação. Começamos a pesquisar as novas formas de trabalho, que se misturam com prazer e descontração, e notamos que os cafés cresciam nesse sentido. Vimos exemplos do exterior e resolvemos apostar”, diz o arquiteto Lucas Durães, 27, sócio do Guaja.
Não dá prejuízo, dizem os empresários
Por focar em pessoas que buscam um lugar com infraestrutura para o trabalho, e não necessariamente nos produtos de um café, os empresários dizem que o novo modelo de negócio está funcionando sem dar prejuízo. Eles não divulgam o faturamento.
“Tem gente que fica meia hora e tem gente que fica o dia todo. Às vezes, a pessoa que fica meia hora come mais do que quem passou o dia inteiro, mas os gastos de um equilibram o do outro”, diz a sócia do Lemni.
“Como vêm para trabalhar, nossos clientes dificilmente ficam apenas uma hora, então, no final, a conta fecha”, diz Durães, do Guaja.
Produtos artesanais de fornecedores locais
Os produtos oferecidos são de qualidade e artesanais, segundo os empresários, fornecidos por parceiros locais. No Lemni, há a opção de pagar o valor unitário e não pelo tempo. Um café custa R$ 3,50, e um croissant ou pedaço de bolo, R$ 5. No Guaja, não há essa opção.
Eles dizem que diariamente precisam explicar o conceito aos clientes, mas, de forma geral, as pessoas gostam da novidade. “Como divulgamos mais como um espaço de trabalho do que como um café, as pessoas gostam, pois nos comparam com outros espaços de coworking”, diz o sócio do Guaja.
Forma de pagamento estimula o consumo
Para o professor de estratégia de negócios da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Alberto Ajzental, os empresários apostam em uma mistura de cafeteria e espaço de coworking, mas ele vê a forma de pagamento com estranheza.
“Acho interessante oferecer itens de cafeteria num coworking, mas embuti-los no preço que se cobra pelo espaço e pela infraestrutura estimula o consumo de itens que não são o principal. O cliente está indo para trabalhar e não para comer, mas, se já está incluso no preço, ele se sente na obrigação de consumir”, declara.
Porém, por ser um modelo de negócio muito novo, ele diz que é difícil avaliar. “É necessário mais tempo de maturação para ver se é uma tendência que veio para ficar ou se será necessária adaptação.”
Esta notícia foi publicada originalmente no UOL Economia