Comunicação transparente na empresa familiar

Processos sucessórios são afetados duramente pela falta de transparência em empresas familiares

Basta ficarmos um pouco mais atento aos acontecimentos da economia, do governo ou da política para rapidamente correlacionarmos a insegurança à indecisão e a incerteza. Podemos buscar exemplos em fatos recentes como as indecisões em relação a soltura do ex presidente Lula ou as incertezas em relação às decisões em relação a fixação da taxa de juros nos Estados Unidos, etc. que de uma ou outra forma afetaram o desempenho das Bolsas de Valores, a taxa cambial ou simplesmente fizeram com que os tomadores de decisão aguardassem para outro momento oportunidade de validar ou não seus propósitos.

A incerteza em relação ao futuro mandatário a ser eleito nos próximos meses igualmente gera clima de cautela no mundo dos negócios.

Esta mesma sensação ou sentimento presenciamos nas empresas familiares, quando sinais de mando, diretrizes e decisões emanam de forma pouco transparente e clara para a organização. As equipes de trabalho, os gestores e em muitos casos a própria família ficam desnorteadas perdendo o rumo, a tranquilidade, não sabendo em que direção prosseguir.

Talvez uma das situações mais críticas nas empresas familiares é a questão da sucessão da gestão. Quem receberá das mãos do fundador o bastão para se tornar o novo CEO da organização?.

Desafios como estes, se bem conduzidos, podem levar um par de anos para serem bem encaminhados. Daí que um bom plano de transição precisa ser arquitetado e colocado em prática. Faz parte deste plano a forma e o momento de comunicar a todos os “ stakeholders “ o que está sendo feito. Estas ações geram clareza e transparência e mostram que a empresa está se preocupando seriamente com o assunto. As mudanças que ocorrerão deverão ser anunciadas e preparadas a tempo.

Quantas disputas familiares não ocorrem pelo fato de não existir um plano sucessório adequado, fazendo emergir brigas de poder, guerras nos bastidores e assim por diante, por parte dos herdeiros. Quantas empresas não foram obrigadas a encerrar suas atividades por estas causas ou semelhantes?

Outro exemplo frequente é a do fundador da empresa que anuncia a todos o seu novo sucessor na gestão dos negócios entregando-lhe o bastão de mando, mas que no dia seguinte da solenidade, está como sempre na Empresa dando suas ordens como se nada tivesse mudado. Como consequência vemos equipes totalmente desnorteadas e confusas, além do sucessor desmoralizado e desmotivado. A incerteza é total e generalizada.

Este mesmo fundador, nunca deixou claro na família, qual de seus filhos seria o escolhido para sucedê-lo. Quais seriam os critérios de escolha? Quando isto seria definido? Qual seria o preparo necessário dos herdeiros para ocuparem posições na alta gestão da empresa? Ao não preparar adequadamente a sua sucessão o fundador e pai de família estará semeando uma gama de conflitos potenciais.

Também é muito comum vermos dirigentes empresariais sinalizando eventuais decisões, de forma não clara, somente para aplacar uma situação momentânea de crise ou expectativa por parte de sua equipe. Quantas vezes não cruzei com donos de empresas que sinalizavam a seus diretores a ideia de dar-lhes uma participação societária na empresa! O simples fato de insinuar e ou comentar gera grande expectativa em relação ao momento em que a ideia deveria ser efetivamente colocada em prática. Não acontecendo, leva a uma situação de descontentamento e frustração.

Pudemos ver através de alguns exemplos como é importante planejar, organizar e divulgar de forma segura e planejada aquilo que se pretende fazer.

Somente a transparência, o diálogo e a comunicação correta farão que os gestores, funcionários e familiares se sintam seguros e confiantes. Pela importância das decisões que deverão ser tomadas ao longo do tempo, é apropriado o fundador da empresa se cercar de pessoas que o ajudarão a discutir e encontrar os melhores caminhos para o futuro, seja através de um consultor, amigo, profissional, pessoa de confiança ou em âmbito de Conselho de Administração. Quanto antes estes assuntos são pautados e entrarem em discussão melhor.

Muitos encaminhamentos poderão ser conduzidos tranquilamente caso a família tenha tido a oportunidade de elaborar no decorrer do tempo Protocolos Familiares. Neste caso não há muito a discutir. As principais linhas de conduta e regras do jogo já foram traçadas e são de conhecimento de todos envolvidos.

Quanto mais transparente e comunicativa uma gestão for conduzida em todos os seus níveis, mais seguros se sentirão aqueles que de uma ou outra forma fazem parte ou gravitam em torno da organização. As incerteza e insegurança cederão lugar à segurança e confiança.

*Thomas Lanz é fundador da Thomas Lanz Consultores Associados, empresa especializada em governança corporativa, gestão de empresas médias e grandes no Brasil