A crise no mercado de trabalho e a necessidade de adaptação

Ao mesmo tempo que o mercado de trabalho exige das empresas imediata capacidade de adaptação a mudanças para se atender a diversidade de necessidades de seus clientes, as quais não param de acontecer, os indivíduos começam a questionar o quanto vale a pena “jogar o jogo” das corporações para nelas manter uma posição.

Mercado de trabalho e adaptação

Foto: John Towner

Integrantes da geração X, que ainda atuam no mercado de trabalho, tinham como premissa profissional atender todas as necessidades da organização, mesmo que para isso precisassem sacrificar a sua vida pessoal. Daí, o ditado “primeiro a obrigação e depois, a diversão”. O cenário atual é totalmente diferente. As novas gerações estão cada vez mais buscando equilíbrio entre vida profissional, social e pessoal. Trazem uma perspectiva de carreira, quase autônoma e com uma visão mais utilitária das organizações, no sentido de permanecerem em seus trabalhos, desde que tragam significado, aprendizado e sentido.

É mandatório as empresas olharem para suas culturas organizacionais, pois, de um lado, há líderes gerindo a partir dos valores de comprometimento, responsabilidade e total disponibilidade para o trabalho e do outro lado, profissionais que buscam sentido e significado em suas atividades e não querem simplesmente atuar de forma “obediente” sem entenderem de forma ampla o impacto das ações empresariais na sociedade e no meio ambiente, além de ter a liberdade para poder contribuir de forma mais abrangente.

Uma grande mudança se avista no horizonte, a qual certamente trará impactos no modelo de contrato de trabalho com esses profissionais e principalmente nos modelos organizacionais e em suas estruturas para absorção dessa mão de obra.

Isso posto, nota-se que o interesse dos jovens pelas organizações é cada vez menor. Pesquisa realizada pela Mind Miners e pelo Centro de Inteligência Padrão (CIP), em julho de 2016, apontou que 71% de 1.330 jovens nascidos entre 1985 e 1999 pretendem trocar de emprego ou atividade num período de até cinco anos. Desse universo, 51% querem abrir o próprio negócio. Apenas 10% não almejam trocar de emprego. As novas gerações não querem ficar o dia inteiro no trabalho, nem mesmo viver em metrópoles. Buscam qualidade de vida integrada à atividade profissional.

Esse público ingressa no mercado de trabalho em um momento em que, no Brasil, 40% dos líderes estarão aposentados até 2025.

Não há profissionais para substituí-los em termos de capacidade ou experiência. Ainda assim, poucas empresas atentam ao processo sucessório. Não apenas quanto ao comando de companhias de capital aberto ou familiares, mas também quanto à sucessão de executivos. Profissionais com know-how de 20 anos deixam o mercado de trabalho sem que se pense quem irá substituí-lo e, consequentemente, sem preparar alguém para a posição.

Para se valerem dos ganhos proporcionados pela tecnologia, as organizações terão de passar por uma metamorfose, a começar pelo seu ambiente, hoje permeado pela competitividade. Profissionais competem com colegas e até com departamentos inteiros. Embora tal comportamento seja valorizado, ele não é construtivo. Isso impede a formação de uma consciência individual e coletiva e até socioambiental. Não é mais possível trabalhar pensando apenas no que se deve fazer. É preciso identificar o impacto que a produção tem sobre a sociedade e o meio ambiente, sem o que não há como garantir a perenidade do trabalho.

As corporações precisam entender a necessidade de integrar todos os stakeholders, com base na cooperação. A partir daí, pode-se criar um ambiente colaborativo, ao invés de competitivo. Isso criará soluções mais saudáveis e produtivas, pois é impossível que uma única pessoa detenha todo o conhecimento e competências necessárias para atender a complexidade empresarial.

 


Texto por Susana Falchi, VP de Estratégia de Pessoas da Orchestra Soluções Empresariais 

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