O desafio do monoproduto: como criar um negócio com um único produto

Por Vitor Kanashiro

Nada melhor do que procurar um especialista, quer seja para curar uma enfermidade, ou para a prestação de um serviço, ou, ainda, para uma refeição.

Só quem respira diuturnamente um assunto tem condições de conhecê-lo a fundo, a ponto de enxergar problemas específicas, ou mesmo ocultos, sobressaindo-se com a melhor solução.

Especificamente no ramo da alimentação, segmento que apresenta um crescimento de 5,5% em seu faturamento e variação de tíquete médio de 7,9% no comparativo de 2015 com 2016, segundo informações da Associação Brasileira de Franchising, especialidades não faltam: cozinha italiana, árabe, francesa, hamburguerias, pizzarias, sorveterias, churrascarias e por aí vai. O desafio maior, contudo, é empreender em um negócio ainda mais específico, ou seja, aqueles que além seguir uma especialidade, sua oferta se limita a um produto. São os negócios com foco em monoproduto, como é o caso do churros, brigadeiros, cupcakes, paletas, frozens iogurte, açaís, entre outros.

Esse movimento pode ser observado de 2014 para cá, já que dada a perspectiva de crise, a demanda do consumidor passou a ser direcionada pela necessidade de se investir menos e melhor, ou seja, com menos dinheiro no bolso, o cliente ficou mais exigente em relação ao que investir, sem chance para errar. Essa dinâmica fez ascender o mercado do monoproduto, na qual o consumidor percebe o maior valor agregado ao item consumido. Muito melhor para ele consumir uma vez e bem, do que várias vezes e mal.

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O monoproduto, portanto, carrega muito mais do que o caráter especialista em sua essência. Ele precisa ser autêntico, diferente, ter variações de recheios, sabores, substâncias, sem perder sua característica principal. E isso, é sem dúvida, um desafio, pois muito embora tenha havido essa mudança de cenário quanto ao comportamento do consumo, o cliente é ávido por novidades e, mais do que qualquer outro negócio, o de monoproduto, que tem somente uma razão para atrair o consumidor, deve ampliar ao máximo suas opções sem fugir de sua proposta. Difícil de determinar essa equação, mas extremamente importante para a sobrevivência desse tipo de negócio, uma vez que produtos únicos geram uma expectativa também igualmente única, e devem ser excepcionais por si só.

Um dos caminhos é explorar o inexplorado, dedicando-se ininterruptamente a pesquisas, bem como a ouvir, incessantemente, o consumidor no PDV.  Outro ponto importante é explorar, sempre, a inovação, criando tipos promoções e campanhas, fisgando o cliente com abordagens diferentes, quer seja por novos sabores, tamanhos, proposta (consumo familiar ou individual, por exemplo), além, é claro, de lançar mão de parcerias comerciais estratégicas, colocando em prática as ações de co-branding, as atreladas aos cardápios de inverno, verão e calendários do varejo.  Vale tudo para se tornar presente na mente do consumidor, fixando a marca entre os Trending Topics quando o assunto for o monoproduto em questão.

Adicionalmente, vale a pesquisa geral de mercado também. Saber lidar com as influências externas: concorrência direta e indireta, sazonalidade, macroeconomia etc., é de extrema importância sob o ponto de vista do sucesso operacional. Grande exemplo são as sorveterias de bairro, que entendem seu consumidor local, o clima de sua cidade, e sabem que, às vezes, a melhor saída é se resguardar operacionalmente, se preparando durante o ano todo para passar alguns meses com equipe reduzida, aluguel menor, trabalhando em períodos mais curtos e deixando para ganhar dinheiro no período de alta. Tudo isso requer desse tipo de empresário, especializado num ramo, com foco em monoproduto e com vendas que oscilam dada a sazonalidade, muito mais planejamento do que qualquer outro negócio. Só quem é especialista de verdade pode entender bem a função vital do organismo, a dinâmica dos processos, as eximias técnicas a serem usadas e os meandros da área em que atua. É assim que ocorre, quanto mais se especializa, mais será reconhecido e demandado, podendo, ao mesmo tempo ser mono, único, exclusivo e autêntico, mas sem deixar de ser o produto ou serviço ao qual se propõe em essência.

Vitor Kanashiro é formado em Administração pela PUC-Campinas, com técnico em turismo pela ETE Polivalente de Americana e Business Marketing na Australian Pacific College e Catering and Cooking pela Carrick Institute of Education.

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