Tendências que mudarão os desafios das empresas de tecnologia brasileiras

Por Marcia Ogawa

Foto via McKinsey

Após ter visitado o CES (Consumer Electronic Show) 2017, em Las Vegas (EUA), e o MWC (Mobile World Congress), em Barcelona, na Espanha, o que noto é a profusão de tecnologias que possibilitam a convergência dos setores de telecomunicações e mídia, e também de outras indústrias.

Fica cada dia mais difícil distinguir se empresas de telecomunicações estão se tornando empresas de mídia ou se empresas de tecnologia estão se tornando empresas de telecomunicações. O “T” (de tecnologia), o “M” (de mídia) e o “T” (de telecomunicações), que formam a sigla TMT, parecem se fundir num único anagrama.

A Google é uma empresa de mídia ou tecnologia? A AT&T (após a aquisição da Time Warner) é uma empresa de telecomunicações ou de mídia? O Facebook é uma empresa de tecnologia ou comunicações? A Telefónica é uma empresa de telecomunicações ou tecnologia, especialmente depois dos novos lançamentos de suas plataformas?

Nunca se viu tantos robôs e aplicações industriais expostos na MWC, que outrora era uma feira dedicada às Telecomunicações. Os robôs demonstravam o potencial de transformação do 5G, IoT (Internet das coisas) e Inteligência Artificial. Com latência mínima, os comandos eram acionados por meio das aplicações em nuvem ligadas diretamente aos sensores que serão, em breve, o futuro chão das fábricas. Isto significa que os comandos, salas de controle e engenheiros poderão estar do outro lado do oceano sem afetar o “modus operandi” das linhas de produção.

As inciativas para acelerar a entrada do 5G – que chegará ao mercado apenas em 2020 – e atender a latente demanda do IoT são inúmeras, cada operadora/país com sua estratégia, passando pelo LTE-M, NB-IoT e LPWAN. São tecnologias que viabilizam as aplicações de IoT de forma imediata, antes mesmo do 5G entrar em operação efetivamente.

Os pilotos de 5G, plataformas de IoT e Inteligência Artificial são o denominador comum das grandes operadoras de todos os continentes. Os oceanos que separam os países parecem não existir no novo mundo da tecnologia. É fascinante verificar as dezenas de pilotos de 5G ou IoT realizados em parceria entre diversos países. Isso ratifica que no mundo de hoje um único país não é capaz de dominar todas as tecnologias. A “soberania tecnológica” de um país se tornou um termo arcaico, do mundo em que quem controlava a riqueza era quem dominava os mares.

Nos dias em que os princípios da OMC (Organização Mundial do Comércio) estão sendo questionados, com o nacionalismo e protecionismo crescente nos países desenvolvidos, onde estará o Brasil? Espero que não sigamos a mesma direção no setor de empresas de tecnologia. Não temos este privilégio e não há tempo a perder.

Precisamos urgentemente criar políticas que atraiam investimentos externos e estimulem empresas de tecnologia – sem a ideologia do passado – em prol da economia e inclusão social. Tecnologias e comunicações acessíveis, abertas e com acesso democrático. Que chegue por todos os mares. Que chegue em qualquer cidadão. Que seja incorporada em todos os polos produtivos do Brasil.

Somente assim, poderemos dar o salto tecnológico, impingir a produtividade no país, criar empregos e evitar que os nossos escassos talentos de tecnologia optem por buscar outros mares.

Marcia Ogawa é sócia-líder para as indústrias e empresas de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da Deloitte Brasil.

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